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Prateleira vazia

28
Ago21

As dez figuras negras - Agatha Christie

Margarida

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Nada mais havia a temer! Não havia mais terrores à sua espera! Apenas uma casa moderna normal, bem construída. (...) O medo... que coisa estranho era o medo!

É uma sensação algo desconcertante a de saber o que se vai passar mas não propriamente como. Sentirmos o perigo iminente mas não a forma que este tomará. Para mim, essa sensação resume este livro.

Agora, mais concretamente: As dez figuras negras retrata a história de dez pessoas que, após serem convidadas para uma estadia numa ilha privada cujo proprietário é desconhecido, começam a ser assassinadas uma a uma. Numa perseguição da sua sobrevivência, os inquilinos começam a criar planos, alianças e paranóias de modo a tentarem entender qual o verdadeiro mestre por detrás de todo este pesadelo. O que se segue, é um retrato lento da queda até à insanidade daqueles que vão sobrevivendo e que passam os dias a temer pelo seu próprio e inevitável desfecho trágico.

Tomado de espasmos, tremiam-lhe as mãos. Acendia cigarro atrás de cigarro, que apagava quase imediatamente. A inação forçada em que se encontravam parecia exasperá-lo mais do que aos outros.

Quando iniciamos a leitura, rapidamente nos apercebemos de qual será o fim das nossas dez figuras. No entanto, a maneira como tal sucede permanece um mistério até ao momento em que, de facto, a tragédia de cada um chega.
Gostaria de dizer que antevi o final, mas não posso. Este livro levou-me a becos sem saída, portas trancadas e quartos vazios que me impediram totalmente de ver o que se estava realmente a passar. Foi um mistério que, até ao último ponto final, me agarrou completamente.

20
Ago21

Caim - José Saramago

Margarida

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O meu primeiro contacto com Saramago foi há 2 anos, quando estava a estudar O ano da morte de Ricardo Reis no 12º ano. Antes disso, estava num hiato de leitura há alguns anos: pouco lia e esse pouco também pouco me trazia. Foi esta obra que me estendeu a mão e me fez reencontrar com a escrita, dando início a uma nova fase da minha vida enquanto leitora.

O verão que se seguiu após concluir o 12º foi recheado com outras obras do único Nobel português: O homem duplicado, Ensaio sobre a cegueira e, o meu favorito de todos, As intermitências da morte. Desde aí que, por puro acaso, que nunca mais li nada de Saramago até, há umas semanas, ter visto este livro na biblioteca municipal e decidido que estava na hora de voltar a mergulhar na obra deste autor que tanto me trouxe.

Lúcifer sabia bem o que fazia quando se rebelou contra deus, há quem diga que o fez por inveja e não é certo, o que ele conhecia era a maligna natureza do sujeito

A personagem principal, tal como o título assim indica, é Caim, o assassino bíblico do próprio irmão. Após ser castigado por Deus, Caim parte numa viagem em que o presente é repleto de diversos passados e futuros. O fratricida experiencia em primeira mão vários dos acontecimentos descritos no Antigo Testamento: assiste à construção da arca de Noé, à destruição de Sodoma e conhece Abraão.

Para caim nunca haverá alegria, caim é o que matou o irmão, caim é o que nasceu para ver o inenarrável, caim é o que odeia deus.

Apesar de me considerar ateia e de nunca ter tido um grande contacto com o cristianismo ao longo da minha vida, acho extremamente cativantes as histórias que fazem uso da mitologia e a reconstroem para criar algo diferente do original. 
Caim não foi, claramente, exceção. Aliada à escrita e à utilização cativante dos recursos estilísticos a que já estou habituada de Saramago, esta reestruturação do canône cristão deixou-me completamente agarrada e foram poucos os dias que demorei a lê-la.

Após terminar o livro, fui investigar e descobri as já expectáveis críticas da igreja católica ao mesmo, visto que nos é apresentada uma imagem de deus muito afastada do tradicional bom, sempre justo e perfeito.

A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.

Ao longo dos próximos dias, continuarei a refletir sobre esta obra e sobre a minha visão da religião. Acho que, no final das contas, é isso que se pede de um bom livro: que nos abra as portas ao pensamento.

Classificação: ★★★★☆

15
Ago21

Se numa noite de inverno um viajante - Italo Calvino

Margarida

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Estás para começar a ler a nova publicação deste blog. Senta-te. Desfruta. Aproveita todas as sensações que te trouxer, caro Leitor.

Antes de o começar a ler, tinha sobre a narrativa deste livro uma ideia muito geral: de que era uma história sobre a história de um determinado livro que um determinado leitor estaria a ler.
Bem, tal não está longe na verdade, mas acredito que é uma explicação exageradamente simplificada. 
Simplificando mais ainda, este é um livro sobre ler.

Se numa noite de inverno um viajante conta-nos a história de um Leitor que, ao comprar um livro com o mesmo nome do que estamos nós, Leitores, a ler, se depara com um grave erro de edição, tendo sido impressas apenas as primeiras páginas do seu exemplar. O que se segue é uma aventura que toma proporções inesperadamente complexas, que se emaranha num conjunto de pessoas, países, línguas mortas e livros inacabados. 

Passei o livro sem saber muito bem o que era real ou não, pois a narrativa destrói completamente a parede que nos separa do que estamos a ler e une, de uma maneira que nunca tinha visto, o real e o fictício. 
Somos obrigados a atirar-nos de cabeça e a enfrentar temas como a solidão da leitura, os motivos que nos levam a ler e as falsificações e o valor que a verdade realmente tem.

Antigamente um conto só tinha duas maneiras de acabar: passadas todas as provas, o herói e a heroína casavam-se ou morriam. O sentido último para que remetem todas as estórias tem duas faces: a continuidade da vida, e a inevitabilidade da morte.

Este foi o primeiro livro que li do autor e confesso que não me desiludi: às vezes também gosto de começar um puzzle que é, mais ou menos, impossível de acabar.

Classificação: ★★★★

 

11
Ago21

Pensamentos pré meia-noite

Margarida

Hoje, ao deparar-me sozinha e com algum tempo livre, pus-me a pensar. Ora bem, pensar sobre o quê? Nada em concreto, mas os meus devaneios frequentemente resultam em preocupações completamente desnecessárias, principalmente quando estes têm um horário noturno e são movidos por cansaço, fadiga e nada para fazer. As minhas emoções levaram-me a querer escrever para as conseguir processar um pouco melhor e de uma forma mais produtiva. Assim, abri o Word (ou qualquer outro software que se foque na escrita que prefiram) e pus-me a debitar sílabas.

Escrevi, antes de começar esta publicação, um conjunto de frases pouco verdadeiras e discordantes com o que sentia realmente. Estranho, mas talvez uma maneira para abrir caminho para o mais sincero de mim. Ao me aperceber disso, ignorei o que tinha escrito e aqui estamos, agora, em frente deste texto.

Este texto que, sendo honesta, pouco revela sobre as preocupações que eu própria construi na minha cabeça. No entanto, admito que estou mais calma e que felizmente estes parágrafos que quase nada dizem cumpriram a função que tinham: voltar a pôr os pés na terra.

A minha ansiedade era baseada num medo de crescer, algo que talvez aborde com mais pés e cabeça no futuro. Veremos.

Em breve contem com publicações talvez mais dignas de se chamarem de tal do que esta. Mas também contem com textos incongruentes e confusos como o que acabaram de ler. Afinal de contas, que seria de um blog se não tivesse variedade.

07
Ago21

The Heart of a Dog - Mikhail Bulgakov

Margarida

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Ooow-ow-ooow-owow! Oh, look at me, I'm dying. There's a snowstorm moaning a requiem for me in this doorway and I'm howling with it

É esta sequência que dá início ao livro The Heart of a Dog de Mikhail Bulgakov, que rapidamente ganhou o título de uma das obras mais bizarras que já li, no melhor sentido possível. Toda esta é uma obra que satiriza fortemente a União Soviética pós revolução Bolchevique. Devido a isto, apesar de ter sido escrito em 1925, o livro foi fortemente censurado e apenas publicado na União Soviética em 1987. No entanto, não deixem que isto vos assuste, pois continua a ser um livro acessível e atual.

Muito sucintamente, este livro conta-nos, em 128 páginas, a história do Professor Preobazhensky que, através de uma operação cirúrgica, transplanta a hipófise e os testículos de um homem para um cão vadio, Sharik. Após este acontecimento, Sharik incorre numa transformação perturbadora a nível físico e psicológico a que Bulgakov não poupa quaisquer detalhes, por mais sangrentos e explícitos que sejam. 

O estilo de narração saltitante entre a primeira pessoa, Sharik, e a terceira pessoa foi dos aspetos que mais me fascinou no livro, permitindo-nos uma visão mágica de todos os acontecimentos e uma perspetiva única do ponto de vista dos vários personagens.

The whole horror of the situation is that he now has a human heart, not a dog's heart. And about the rottenest heart in all creation!

Este foi o segundo livro que li do autor, tendo sido o primeiro The Master and Margarita, este frequentemente nomeado como o seu melhor escrito. O meu primeiro contacto com os livros de Bulgakov deixou-me fascinada seja pela imaginação incrível do autor, a escrita belíssima ou as reflexões profundas sobre os mais diversos aspetos da condição humana.

Outro dos aspetos que mais me cativa é a exploração da sociedade soviética. O meu conhecimento em história, infelizmente, é limitado e por isso, sempre que um livro me dá a conhecer diversas épocas e acontecimentos longínquos, o meu interesse fica ainda mais cativado e fico motivada a ir investigar mais sobre o contexto histórico para ter uma maior perceção das referências feitas ao longo da narrativa.

Deixo-vos, assim, com esta minha primeira exposição aqui no blog, ficando bastante feliz por ter sido de um livro do qual gostei tanto. Espero que vos tenha inspirado a ler a obra ou a explorar mais sobre este autor. Não se esqueçam: vão de mente aberta e de estômago vazio.

Classificação: ★★★★★

 

01
Ago21

O Início

Margarida

Olá a todos os que possam estar a ler esta publicação. O meu nome é Margarida e este é o primeiro tijolo da casa que eu espero que este blog se tornará.
Não me irei alongar muito sobre factos relativos à minha pessoa e à minha vida, esses  virão ao de cima ao longo do tempo, com cada publicação. Ao invés, explorarei um pouco a motivação por detrás da criação deste blog.

Adoro escrever. Poemas, reflexões, passagens lamechas de diário. Seja o que for. É-me muito mais fácil exprimir através do uso da escrita do que o da fala. Mas os meus hábitos de escrita são escassos e pouco consistentes, flutuando bastante com as minhas emoções. Assim, utilizarei este blog de modo a tentar criar rotinas que me permitam fazer algo de que gosto tanto, e que me deixa o espírito tão leve. É estranho ter que me "obrigar" a este exercício, mas a minha maneira de ser assim o requer.

Neste espaço podem contar com livros (especialmente), música, filmes, séries e seja o que for que também me dê na cabeça para falar. Abordarei viagens que faça e outras experiências pelas quais passarei. Resumindo, será uma transcrição para o mundo exterior dos meus diálogos interiores.

Espero, principalmente, não me esquecer deste cantinho e me desiludir a mim mesma.
Até à próxima.