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Prateleira vazia

15
Ago22

O que fica por acabar

Margarida

Só costumo trazer aqui para o blog livros de que gostei, não me trás grande prazer escrever sobre os que sinto que não me trouxeram nada de especial ou que foram, simplesmente, medíocres. Mas hoje vim refletir sobre livros maus (fica o aviso óbvio da subjetividade desta frase), principalmente os inacabados.

Recentemente comecei a ler um livro, Dias Exemplares de Michael Cunningham. Não fui eu que o comprei, e provavelmente não o teria feito caso o tivesse visto alguma vez numa livraria. Foi-me oferecido e ficou no canto da prateleira destinado a livros ainda por ler desde então, por nunca me ter despertado grande interesse. Mas, como estou a tentar despachar a pilha de livros parados e por ler, decidi dar-lhe uma chance. Comecei-o há cerca de um mês. Não li mais de 60 páginas. A história não me chamou muito à atenção mas quis continuar a tentar. Talvez seria na próxima página que me começaria a interessar e iria ler algo que me fosse mudar profundamente para sempre; essa página não chegou. Tanto não chegou que fiquei numa espécie de reading slump durante o mês de Julho: queria ler algo, mas não o que tinha como objetivo ler naquele momento (isto é, o supracitado livro) então não lia nada. São estas as consequências de nos obrigarmos a fazermos coisas que não nos dão prazer e que não são responsabilidades absolutas do dia a dia: tiram-nos o gosto de algo que felicidade nos costuma dar. Finalmente, decidi desistir de Dias Exemplares e retomá-lo ao sítio dele na prateleira, onde deverá ficar por um bom tempo.

Nunca fui muito de deixar livros por terminar: se os começava, queria ver onde iam. No entanto, sinto que este me trouxe uma nova perspetiva à coisa e me deixou a refletir sobre qual a necessidade de nos obrigarmos a terminar coisas que não nos trazem nada, nem sequer sentimentos de raiva ou frustração pelo quão mau é o que estamos a ler/ver/seja o que for. Sinto que esta vontade de terminar tudo o que se começa vem de um ligeiro (e peço desculpa por novamente usar uma expressão inglesa) fear of missing out, de querer saber tudo e estar presente em tudo e não saber prioritizar o que de facto interessa, deixando coisas que nos poderiam ter trazido algo melhor escapar.

Resumindo e concluindo, este livro até me trouxe algo: deixar de me obrigar a ler coisas só para deixarem de apanhar pó na estante, que mal é que o pó faz?