Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Prateleira vazia

29
Mai23

Blind date with a book - Stepford Wives

Margarida

No início de Março, passei 3 dias em Amesterdão com uns amigos. Num dos dias, deparámo-nos com uma loja de livros em inglês, a New English Bookstore, numa zona muito central da cidade. Acabámos por entrar. Lá encontrei uma pequena estante de livros todos embrulhados em papel e apenas com palavras chave escritas na capa. Ora, este era um conceito que já tinha visto algures no Instagram, mas nunca tinha visto nada do género numa livraria em Portugal. Essencialmente, consiste no leitor comprar um livro baseando-se apenas nas palavras chave que estão na capa, que tentam descrever de forma resumida os temas que a obra aborda, e não em fatores como a capa ou o autor. Cada livro custava cerca de 10 euros e eu, enquanto alguém que gosta quase tanto de comprar livros como dos ler, não resisti. No meio da estante, encontrei o que podem ver abaixo.

20230305_143301.jpg

O que mais me chamou à atenção foram os pontos Feminist Horror e Sterility:  o primeiro por me parecer algo de que com bastante probabilidade iria gostar e o segundo que, apesar de não entender bem o que significaria neste conceito, parecia ter potencial para ser um tema interessante no contexto duma história feminista.

O livro que me calhou nas mãos foi Stepford Wives de Ira Levin. A história segue Joanna, uma mulher da grande cidade, que se muda para os subúrbios com o marido e os filhos. O problema com a mudança é que, neste novo sítio aparentemente idílico, todas as mulheres têm uma aparência "perfeita" saída de um anúncio e são excelentes donas de casa. No entanto, vivem apenas para se submeterem às necessidades dos maridos e para terem uma casa perfeita. A partir daqui, o livro desenrola-se, com Joanna cada vez mais incomodada com os comportamentos das mulheres e dos homens deste sítio, que parece parado no tempo. 

O livro não é muito grande e têm uma linguagem bastante acessível. Isto, aliado à narrativa cativante, acabou por tornar esta numa leitura rápida. Nunca tinha lido um livro descrito como Feminist Horror  mas depois deste certamente quero ler mais. 
Relativamente ao aspeto do blind date, não fiquei de todo desiludida. Este foi um livro do qual nunca tinha ouvido falar, com uma capa não muito chamativa e que provavelmente nunca teria comprado se o tivesse visto numa estante disposto normalmente. No entanto, tornou-se numa leitura da qual gostei bastante.

18
Mai23

The Song of Achilles - Madeline Miller

Margarida

20230518_182511.jpg

We were like gods, at the dawning of the world, and our joy was so bright we could see nothing else but the other.

Ouvi falar sobre este livro pela primeira vez há vários anos. O meu interesse foi rapidamente despertado por se tratar de uma adaptação da história mitológica (tema pelo qual tenho especial interesse) de Achilles e Patroclus. Infelizmente, só comprei o livro no ano passado e ele só foi iniciado há uns meses. No entanto, transformou-se num favorito instantâneo.

The never ending ache of love and sorrow. Perhaps in some other life I could have refused, could have torn my hair and screamed, and made him face his choice alone. But not in this one.

Ora, o livro conta-nos uma versão adaptada da história de Achilles, o melhor dos guerreiros Gregos, e de Patroclus, o seu companheiro. Seguimo-los desde as suas infâncias até às suas mortes, tragicamente inescapáveis e predestinadas pelas moiras. Na versão original da história, na Ilíada, não existem afirmações diretas de que os dois homens estão romanticamente envolvidos. No entanto, nesta história, os dois são mais que companheiros de guerra, e têm uma relação. Todo o livro é narrado do ponto de vista de Patroclus, mero mortal deserdado pelo pai (que era rei), que segue Achilles com fascínio, amor e admiração, quase desde o momento em que se conhecem. 

He is half of my soul, as the poets say. He will be dead soon, and his honour is all that will remain.

Aviso: se gostam de romances tristes, este é para vocês. Mesmo sem se sabendo a história original, parece que desde o início do livro existe uma sensação de desgraça e tragédia iminente. Esta sensação vai-se esquecendo um pouco pelo meio, através dos momentos felizes que os dois rapazes partilham até à vida adulta e à ida para a Guerra de Tróia. No entanto, rapidamente voltamos a ser relembrados do destino que se assombra. 

Mas, não deixem a tristeza da história assustar-vos. O livro está escrito de uma maneira tão bonita e poética que torna a desgraça vivida em algo quase belo. É impossível largá-lo no meio de tantos sentimentos profundos tão bem descritos. As páginas passavam e eu simultaneamente queria parar, para não o acabar muito rápido, e continuar durante horas para ler as descrições lindas de Madeline Miller. Foi por isto que digo que se tornou num favorito.

Outro dos fatores que mais gostei no livro foi o facto de ser narrado por Patroclus. Patroclus tem um início de vida difícil e trágico, que molda e afeta para sempre a sua visão do que o rodeia. No entanto, é interessante vê-lo a apaixonar-se por Achilles, abençoado pelos deuses, ouvir as suas narrações de uma guerra épica enquanto não lutador e ver como lida com o destino que os deuses lhe prometeram. 

Fico feliz por, após vários anos, finalmente ter comprado e lido este livro. São histórias como estas que trazem prazer ao ato de ler e relembram do quão bonitas as palavras podem ser.

Was this the son you preferred to Achilles? Her mouth tightens. 'Have you no more memories?' I am made of memories. 'Speak, then.'